quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Os familiares e os amigos

Aqueles que padecem de depressão e embora esta seja na sua essência uma ausência de vida, uma ausência de vontade, de querer, de sentir positivamente e às vezes mesmo uma ausência completa de sentir ( de emoções de prazer, físico, intelectual, sexual, espiritual... ) deviam procurar ( quando para isso têm alguma força) descrever, dizer, escrever sobre a sua doença, o seu estado de espírito, como vêem a realidade, os familiares, o que os poderia ajudar em cada momento....
Isto porque mesmo o estudo médico tem que passar em grande parte pela informação que vai sendo transmitida pelos doentes, porque nem tudo é visível.
E por ouro lado porque os familiares os amigos não estão preparados, não estão informados, não sabem lidar com uma pessoa em depressão... Por vezes aquilo que dizem e pensam que estão a animar, agrava ainda mais a sensação de tristeza e apatia. Outras vezes o tempo passa e cansam-se de investir na pessoa deprimida, adaptam-se e afastam-se, passando a vê-la como sendo esse o seu estado normal, essa a sua maneira de ser, esquecendo que já foi diferente... E a pessoa deprimida fica agora mais sozinha.
Isto acontecerá sobretudo com as depressões crónicas ou recorrentes, os amigos cansam-se do continuado pessimismo, nós queremos que os outros nos dêem alegria, boa disposição e não peso, cargas negativas... Toleramos as queixas dos outros uma duas vezes, mas a partir de certo momento passamos a defender-nos delas... O mesmo com os familiares, começam a preferir não dizer nada, não perturbar o descanso, deixar estar... em vez de mais um não, em vez de mais um face pesarosa e desagradável. "Não há nada a fazer", apazigua quem de facto não sabe como agir. Filhos afastam-se dos pais, refugiam-se na sua própria vida e muitos já marcados pelo seu crescimento com um pai ou mãe deprimido. Os pais não têm coragem para conversar com os filhos deprimidos, culpando-se com frequência, vendo a depressão como um falhanço seu enquanto pais... As pessoas impõe limites aos aauntos das suas conversas, aos afectos... vêm a depressão do outro como uma animosidade contra si... Quantas vezes face a apatia tristeza dum pai ou mãe deprimido um jovem não ficou agressivo, sentindo a falta de vontade de viver do progenitor como uma falta de afecto por si? "Se gostasse de mim queria viver queria estar comigo, ver um filme comigo, jantar comigo?!..."
E em vez de perguntar se assim é, em vez de demonstrar o seu afecto, dá como verdadeiro o seu pensamento e afasta-se....
E o pai ou mãe para não prejudicar o seu filho cala-se, mete-se na cama- sofre.
Não deve haver nada mais valioso para um pai ou uma mãe que sentir o abraço apertado dos seus filhos, os seus beijos, as suas palavras os afagos, sinceros sem medo... Então para aquele que luta contra a depressão isso vale mais que qualquer antidepressivo que se invente. Sentir no corpo o amor dos seus filhos preencherá o seu vazio, será o suficiente para que aquele que estava imóvel comece a andar, o que estava de costas para o mundo se volte...

3 comentários:

  1. E se a depressão for o resultado de uma forma exacerbada de sentir o que nos rodeia?

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  2. Não digo que o não seja. Só que esse resultado deixa de ser uma forma exarcebada de sentir para se tornar numa forma patológica incontrolável e muito dolorosa de nada sentir, ou de só sentir dor.

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  3. Olá minha querida, menina do banco de jardim!

    Agradeço o teu vôo pelo meu colmeal, ouvi o zumbido, e fui até lá, e encontrei o teu rasto sempre prazeroso!

    Aguardei-te, esperei-te, olhei para o caminho, sempre vazio, procurei os teus pais por Montemor, mas sempre em vão.
    As abelhitas enviaram "una cozita" para si, que não tive a quem entregar.

    Julgo que acabastes por não passar por cá, pelo teu tão querido Alentejo.

    Temo que as coisas não vão muito bem, não pode ser minha querida!

    Ergue-te, olha a minha Ninocas como se tem recomposto, a olhos vistos.

    Vou enviar-te um Mail para leres com atenção e levares a sério.

    Um beijinho do tamanho da nossa amizade, Alexandre & Família.

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  • Sexo e Amor, de Francesco Alberoni, Bertrand Editora
  • Recriar o Seu Ser, Neale Donald Walsch
  • O Profeta, Khalil Gibran
  • O Poder do Agora, Eckhart Tolle, Pergaminho
  • O Feminino Reencontrado, de Nathalie Durel, Ariana Editora
  • O Cavaleiro da Armadura Enferrujada, de Robert Fisher, Editorial Presença
  • O Caminho Menos Percorrido, de M. Scott PecK, colecção xix
  • As Vozes de Marraquexe, Elias Canetti

Depressão - quando como porquê...

A criação deste Blog advém de, ao longo de vários anos, ter percepcionado que em Portugal esta doença é quase tabu; envolvida pela vergonha de quem padece e pelo desconhecimento político da sua real dimensão e implicações, bem como das respostas existentes para o seu tratamento... Apenas pretendo abrir um espaço para a interrogação a denúncia a informação... Talvez dessa troca de ideias resulte benefício para alguém ( doente, familiar, amigo... ) como, por exemplo, a identificação do seu sofrimento, o início da compreensão e da aceitação da depressão como doença, um incentivo para a procura de mais conhecimentos, um incentivo para predir ajuda na sua cura ou na melhor qualidade de vida, ou o renovar da esperança perdida... Bem hajam! os que quiserem e não tiverem medo ou vergonhar de comentar: criticar, sugerir, informar, questionar, contar, interrogar-se, lamentar-se...