quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A Depressão e a DOR

Quando iniciei este blog já sabia que teria que pagar um preço pela sua existência.
Sabia que quem me conhecia mudaria o seu olhar sobre mim, seu sentir, e de pessoa afável depressa seria convertida em alguém que é melhor ignorar...
Não tenho peste ou outra doença contagiosa, mas para muitas pessoas deixei de ser uma pessoa normal e susceptível de consideração para um ser defeituoso, com capacidades diminuídas, que pode vir a faltar ao trabalho e a causar incómodos com as substituições, que não se pode ter inteira confiança no seu trabalho, dá-lo como meritório e depois vir a faltar com baixa ( se está de baixa é logo dito que tem depressão, mesmo que esteja com uma pneumonia...)... Sou ainda ingénua, e a vida me guarde essa ingenuidade pueril, mas não sou nem ignorante nem burra. Por isso, contava com a hostilidade, a frieza, a incompreensão... etc que no geral decorre da ignorância, mesmo daqueles que por razões da sua profissão, dos seus mestrados, dos honorários cobrados têm obrigação de saber mais. Mas, veja-se o exemplo dos médicos, especializam-se num bocadinho do corpo e desligam-se da evolução do saber que vai acontecendo noutras áreas da Medicina... Já me cruzei com vários que sabem menos de Psicologia e Psiquiatria do que eu, e eu nada sei... Por isso, como criticar a ignorância de outras pessoas, licenciadas ou não, em áreas da matemática ou das línguas, contabilidade... Sempre senti que ninguém realmente percepcionava o meu estado, o meu sentir , as minhas dores... nem aqueles que por afecto continuaram ligados a mim.
Por isso a necessidade que sinto de assumir publicamente esta doença que mina por dentro e que tantas vezes ouve a palavra mais dolorosa, mesmo quando quem a diz nem tem intenção de ferir.
Estou viva não morri, trabalho, crio em termos artísticos, nada em meu corpo é contagioso, tenho os níveis de colestrol óptimos, um KI acima da média, tenho 50 anos, sou uma pessoas sensível e disponível para ajudar os outros... Só que há momentos, às vezes minutos, horas, dias, meses... em que a depressão é mais forte do que eu! Nesses momentos, eu sou a mesma, mas tenho um cansaço tremendo, dores intoleráveis e a única vontade que poderei sentir será a de morrer... Mas sei que não morro, sei que a dor há-de melhorar bem como o cansaço. Ninguém me diz isso, sou eu que sei, que já passei pelo mesmo nem que seja de outra forma e, no fim, fui eu que venci! vencerei sempre! Percebi que esse era o meu único poder terreno, não era a propriedade duma casa bonita, dum carro, de mais um vestido, de ser ou não amada por alguém... Não o meu maior poder era acreditar no meu próprio poder sobre mim! Se estou viva devo em parte à Medicina, mas sobretudo à minha capacidade de resistência e sofrimento, ao meu inato instinto de sobrevivência, à minha pesquisa incessante para entender a doença - lendo, lendo - mas sobretudo à minha decisão de que neste planeta não será a depressão e a ignorância ainda existente sobre ela que me vencerá! A última palavra será minha e não a da minha doença. Acreditar que por mais doloroso ou demorado que seja, vamos mais uma vez, abrir as portas do nosso corpo e da nossa mente ao Universo ajuda-me a superar. Há quem acredite na intervenção divina e reze... eu acredito que o melhor de mim, a minha parte divina, sarará ainda que deixando muitas chagas abertas a ferida que me domina... Tenho orgulho em mim, em ter assumido este blog pelos que sofrem, não obstante isso me tivesse retirado a proximidade de algumas pessoas e o seu afecto para quem passei a valer menos socialmente e profissionalmente, a ser tratada com desinteresse, distância, até frieza ... Este blog e partilha é uma forma de amar os outros, de partilhar as suas dores e medos - tão mais valioso que aquilo que perdi e na verdade, ingénua, nada me fora dado....
Não pretendo culpabilizar ninguém! a culpa é uma das inimigas duma vida sã.
Curar uma depressão muitas vezes passa por ultrapassar a culpa, o medo e ser capaz de perdoar, a si e aos outros. A mim doí-me ainda muito a injustiça de não ter tido aquilo que desejei, que esperava receber de outrém, no passado e no presente. Sei que foi ilusão minha, nada me fora prometido... Ainda não atingi o nível superior de não depender do comportamento do outro, de não deixar afectar por ela, pela frustração... sei que esse é o meu caminho interior que me falta percorrer.
Mas isto não se aplica a outrém... Outros terão que descobrir qual é o seu próprio caminho,  cair e levantar-se nele, derrubar as barreiras escorregar na lama, cair e levantar-se uma e outra vez...          

2 comentários:

  1. Oi, sei o que é isso, é uma tristeza sem fim. Eu tenho 40 anos,e ainda não me achei. sinto falta de uma amiga que me compreenda. As vezes sinto raiva de mim mesma, por senti pena de mim mesma. Mais fazer o que, continuar lutando, temos que viver... até quando Deus quiser.

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  2. Já errei tanto na vida que errar hoje é brincadeira. Não importo! A vida é cheia de erros e isto não é o final do mundo.
    Quando não se tem um amigo confiável, faça do espelho seu melhor amigo.
    Beijos!!!!

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  • O Caminho Menos Percorrido, de M. Scott PecK, colecção xix
  • As Vozes de Marraquexe, Elias Canetti

Depressão - quando como porquê...

A criação deste Blog advém de, ao longo de vários anos, ter percepcionado que em Portugal esta doença é quase tabu; envolvida pela vergonha de quem padece e pelo desconhecimento político da sua real dimensão e implicações, bem como das respostas existentes para o seu tratamento... Apenas pretendo abrir um espaço para a interrogação a denúncia a informação... Talvez dessa troca de ideias resulte benefício para alguém ( doente, familiar, amigo... ) como, por exemplo, a identificação do seu sofrimento, o início da compreensão e da aceitação da depressão como doença, um incentivo para a procura de mais conhecimentos, um incentivo para predir ajuda na sua cura ou na melhor qualidade de vida, ou o renovar da esperança perdida... Bem hajam! os que quiserem e não tiverem medo ou vergonhar de comentar: criticar, sugerir, informar, questionar, contar, interrogar-se, lamentar-se...