quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Tristeza

Chamo-lhe tristeza, se é não sei


pára-me o sentir a descoberta

veda-me o olhar ao que acontece se renova e clareia

fico parada num corpo que nada quer

... a não ser sentir o que sente

a mágoa que teve, o que não foi nem será


não! não é saudade

saudade é exaltação do vivido, eternizando-o sempre


nem já tenho lágrimas, apenas este freio na boca

as mãos cravadas no ventre

as pernas cerradas sem dia nem noite

e esta máscara que me defende

dum desencontro que não entendo

4 comentários:

  1. Cara "amiga", conheço bem este universo e tenho escrito muitas linhas parecidas, rios de sofrimento e escape. Há 20 anos que tomo antidepressivos de algum tipo, tive períodos melhores e outros piores; seria complexo enquadrar aqui uma situação pessoal, como são todas, complexas, mesmo quando parecem simples. Contudo, gostei muito de ver esta determinação na procura do conhecimento. No meu caso o pior é vontade de me isolar e o esforço que se faz para nos mantermos à tona. Poucas pessoas à minha volta sabem que sofro deste problema (distimia, depressão, melancolia...sei lá...). Pareço até uma pessoa feliz ou "normal". Trabalho, desde há tempos até sou chefia, também professor em curtas colaborações, tenho amigos, mas no amor é que é pior... Contudo...enfim. Deixo aqui duas sugestões para complemento: Darkness Visible de William Styron; Diz-me porque estás tão triste de David A. karp ed. Quadrante (traduzido em português), muito bom, além de um outro não traduzido "is it me or my meds?". bjs e tudo de bom Paulo

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  2. Caro Amigo, é sempre bom ouvir quem sofre de doença semelhante à nossa. Não é que me alegre saber que sofre, mas apenas saber que há alguém capaz de saber o que sinto. Não compreendo como há tanta vergonha tanta ignorãncia tanta descriminação com esta doença que assola cada vez mais as pessoas. Então a ignorãncia de alguns médicos é intolerável! Obrigada pelas sugestões. Enquanto tiver forças a divulgação desta doença, da sua dor e sofrimento, da sua prevenção, da necessidade de tratamento atempado, contribuir para a desmistificar são objectivos que prosseguirei... Conto consigo sempre que quiser partilhar. Nunca se sabe quando uma palavra pode mudar a vida de alguém para melhor...

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  3. Infelizmente pessoas há que pelo seu olhar critico perante a doença fazem com que se fechemos num casulo de protecção evitando assim passar a vergonha dos olhares e dos comentários alheios á nossa passagem .Trites, incompreendidos assim vamos seguindo este caminho cada vez mais inóspito.Abraço

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  4. Boa tarde amiga,
    compreendo bem o que diz. Se lhe disser que eu próprio não aceito bem este facto que é a perturbação mental em mim mesmo, já vê. A primeira dificuldade consiste exactamente nessa definição, doença, perturbação, personalidade, normal ou patológico? Se tiver diabetes, Hipotiroidismo, Asma, Cancro, etc, é possível "objectivar" a doença e dar-lhe um nome, um diagnóstico, um prognóstico; Ao contrário, não é consensual o limite comportamental e emocional das perturbações psiquiátricas e menos ainda para a maioria das pessoas que no quotidiano connosco se relacionam. Até para muitos de nós que sofremos os seus efeitos se coloca muitas vezes... sou eu que não me esforço? devia ser capaz... isto são desculpas... tenho de... etc, etc... num conflito que ajuda a ampliar o sofrimento. Sentido e previsibilidade (sensação de domínio, controle) são factores muito importantes para o doente. O meu problema de base é uma ansiedade muito grande que se traduz em factor de indisponibilidade, medos, angústia e retracção. Imagine como me tem prejudicado em ser feliz, sobretudo no amor... contudo, a luta continua como se diz na política. Com ou sem comprimidos! bjs

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Depressão - quando como porquê...

A criação deste Blog advém de, ao longo de vários anos, ter percepcionado que em Portugal esta doença é quase tabu; envolvida pela vergonha de quem padece e pelo desconhecimento político da sua real dimensão e implicações, bem como das respostas existentes para o seu tratamento... Apenas pretendo abrir um espaço para a interrogação a denúncia a informação... Talvez dessa troca de ideias resulte benefício para alguém ( doente, familiar, amigo... ) como, por exemplo, a identificação do seu sofrimento, o início da compreensão e da aceitação da depressão como doença, um incentivo para a procura de mais conhecimentos, um incentivo para predir ajuda na sua cura ou na melhor qualidade de vida, ou o renovar da esperança perdida... Bem hajam! os que quiserem e não tiverem medo ou vergonhar de comentar: criticar, sugerir, informar, questionar, contar, interrogar-se, lamentar-se...