segunda-feira, 29 de setembro de 2008

A vida é sofrimento - ou talvez não

Para muitos estudiosos da depressão a aceitação desta verdade afirmada por Buda, de que a vida é sofrimento, permitiria eliminar o sofrimento humano. Se aceitarmos que viver é sofrer, então o sofrimento é aceite como coisa normal.
Aliás esta verdade de Buda não é estranha à nossa civilização ocidental. Segundo o Cristianismo esta vida é de penitência pelo pecado original e a felicidade suprema é atingida depois da morte para aqueles que forem para o céu. Igualmente para os Muçulmanos a felicidade só acontece junto de Alá.
Não obstante o valor de todos esses pensadores, permito-me tentar pensar um pouco por mim. E sobretudo recuso essa afirmação com o carácter de verdade absoluta que lhe é atribuído. A vida contém sofrimento, mas a vida não é só sofrimento. O amor é uma prova de que a vida não é só sofrimento, embora amar possa exigir sacrifício e mesmo sofrimento. Mas amar também pode trazer sentido à vida alegria bondade felicidade... Mas nem só o amor contradiz tal afirmação. Há tantos momentos de bem estar na vida de cada um... Só cada um de nós os pode enunciar, pois a felicidade é algo de interior e o que faz feliz uma pessoa não faz necessariamente outra, e o que nos faz feliz num momento pode não o ter feito noutro...
Conter a dimensão do ser humano em afirmações dogmáticas pode conduzir a teses belíssimas, até dar dinheiro e fazer vender livros, mas é uma atitude medieval. Que venha o renascimento!

2 comentários:

  1. Na minha vida, as depressões são situações recorrentes. Não sei como as devo classificar, não sei se serão apenas momentos de fragilidade emocional... O que costumo dizer a mim própria, quando analiso as situações, é que costumo mergulhar num poço mas com os pés para baixo. Assim, quando bato no fundo, instintivamente forço o impulso e volto à superfície. Talvez por isso tenha conseguido chegar até hoje sem ajuda especializada(se não referir uns tranquilizantes fracos).
    Mas como é que se conseguem as vitórias definitivas? Há pouco tempo atrás, senti uma vontade imperiosa de nunca mais deixar que se formasse a mais pequena partícula de desespero...a vontade de desviar pensamentos, de calar diálogos internos, dores que nos agarram porque nos agarramos a elas. Hoje, a ansiedade voltou, por motivos muito reais, e criou resistências porque atacou pelo lado físico: roi o corpo, o estômago, acelera a respiração, poisa com toneladas na cabeça e na nuca... Não estamos ligados à corrente, disseram; podemos cortar os pensamentos, as lembranças,porque tudo o que focalizamos cresce... Mas como é que se anulam os monstros que vêm até nós e nos voltam a ligar a ficha? Quero combatê-los,mas pensar que eles estão sempre a insistir, é isso que não me liberta.
    MGR

    ResponderEliminar
  2. Olá MGR!
    Parabéns por conseguir falar da sua situação do seu problema por assumi-lo.
    Não sou técnica para poder aconselhá-la.
    Mas do que li, penso que tem a ideia de que para tratar esses estados depressivos recorrentes como lhe chama têm necessariamente que tomar-se antidepressivos. Não é assim! Talvez fosse mais útil tentar descobrir porque motivo fica nesse estado. Ir à descoberta do seu intímo, dos seus medos, das suas fragilidades das suas raivas... Talvez a psicoterapia seja o caminho... Talvez as suas espectativas emocionais sejam pouco realistas e as suas carências afectivas grandes. Emocionalmente pode estar a repetir sempre o mesmo erro... Tenha cuidado consigo, procure ajuda se não conseguir sair do poço. E se este blog puder servir para alguma coisa disponha... Não se enrole em si, não se feche: não resulve nada!
    Eu entendo o que diz... E é tão importante haver alguém que consiga avaliar o que sentimos.

    ResponderEliminar

Deixe o seu conselho vivência exemplo lamento... Não está sózinho

Seguidores

Livros cuja leitura recomendo

  • Sexo e Amor, de Francesco Alberoni, Bertrand Editora
  • Recriar o Seu Ser, Neale Donald Walsch
  • O Profeta, Khalil Gibran
  • O Poder do Agora, Eckhart Tolle, Pergaminho
  • O Feminino Reencontrado, de Nathalie Durel, Ariana Editora
  • O Cavaleiro da Armadura Enferrujada, de Robert Fisher, Editorial Presença
  • O Caminho Menos Percorrido, de M. Scott PecK, colecção xix
  • As Vozes de Marraquexe, Elias Canetti

Depressão - quando como porquê...

A criação deste Blog advém de, ao longo de vários anos, ter percepcionado que em Portugal esta doença é quase tabu; envolvida pela vergonha de quem padece e pelo desconhecimento político da sua real dimensão e implicações, bem como das respostas existentes para o seu tratamento... Apenas pretendo abrir um espaço para a interrogação a denúncia a informação... Talvez dessa troca de ideias resulte benefício para alguém ( doente, familiar, amigo... ) como, por exemplo, a identificação do seu sofrimento, o início da compreensão e da aceitação da depressão como doença, um incentivo para a procura de mais conhecimentos, um incentivo para predir ajuda na sua cura ou na melhor qualidade de vida, ou o renovar da esperança perdida... Bem hajam! os que quiserem e não tiverem medo ou vergonhar de comentar: criticar, sugerir, informar, questionar, contar, interrogar-se, lamentar-se...